sábado, 25 de outubro de 2014

Acidente Profissional

Ironás, quando percebeu que estava perdido em meio aos prédios altíssimos e paredes psicológicas que impediam o seu movimento, devido à sua saúde muito frágil, desestabilizou-se de nervosismo e, num magnifíco e pesado cambaleio, estatelou no chão, batendo a cabeça.
Quando acordou, estava numa cama de hospital.
"Removemos suas pernas e inserimos as de um canguru", ouviu do médico. "Suas pernas tremem de tão fracas, e valiam o nada. Agora assim, terá forças para se sustentar e nunca mais cair no chão. Agora vai embora: tenho pacientes a atender".
Desconsoladíssimo com a ausência de seus membros originais, Ironás saiu, perdido para a cidade novamente.
Procurou emprego, é claro - sem teto para viver, e frágil como era, devia arranjar um o mais rápido possível para sobreviver.
Conseguiu após a quinta tentativa - rápido, assim, pois ninguém queria os cargos menores, e aí então já era noite -, numa fábrica de pianos.
"Aqui não temos máquinas de teste, pois é caro, e no entanto, precisamos atender às leis e provar que os produtos foram testados com provas em vídeo", constatou o instrutor, "seu trabalho é testar os pianos. Para isso, deve tocar todas as teclas ao menos uma vez: se uma tecla falhar, nos chame."
E trabalhou e trabalhou, teclando. Mas os braços de Ironás, que nunca foram bem nutridos nem alongados nem flexíveis, eventualmente começaram a doer, até que urrou de dor e desmaiou.
Quando acordou, estava na enfermaria da fábrica.
"Diante da sua inflamação inconsequente nos tendões, e visto que tem braços inúteis e frágeis demais, amputamos eles e no lugar pusemos braços de gato", disse o enfermeiro. "Agora assim, não terá problemas para flexionar os dedos e pulsos. Agora vai trabalhar: tenho miseráveis a atender."
Desconsolado com a notícia, voltou a apertar teclas. Não teve problemas, e duas horas depois seu turno acabou, e saiu de lá com algum dinheiro.
Ironás comprou uma marmita de jantar em uma barraca (porque um restaurante é que não poderia pagar), e procurando por algumas horas, achou um capengante aluguel em conta, sentou-se em sua cama, comeu sua janta e, sentindo um sono fulminante, tombou na cama.
Quando acordou, estava numa ambulância.
"Você comeu tolamente um jantar em condições miseráveis - ali passaram ratos, baratas e havia resíduos de metais - e dormiu numa cama da qual você é alérgico", disse a paramédica, "muitos órgãos tiveram falência interna, e sua pele estava cheia de erupções, então substituímos seu tronco pelo de um coala. Agora assim, não terá problemas para suportar qualquer tipo de intoxicação. Agora vai viver: tenho emergências a atender."
Triste mas já conformado com a situação, pulou para a calçada em movimento, mesmo. Foi, então, dar um passeio pela cidade que, estranhamente, agora, todos os locais conhecia. Era como se todos os cantos fossem parte do seu ser, essa capital dos miseráveis resistentes seriam seus membros postos impetuosamente, seu corpo quimérico e sem identidade. Ironás se sentia um veio de potência, de implacável crueza, de virulenta infelicidade. Só veio a entender o motivo deste sentimento no último suspiro de uma vida de noventa porcento de sucesso violentamente profissional: havia se tornado humano demais.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Introdução ao blog Histórias Furrescas

A princípio a intenção deste blog é postar narrações curtas, relativas a seres furries - ou de acordo com o neologismo que criei, seres furrescos -, sem compromisso e de assuntos variados.
Diante disso, é importante ressaltar algumas temas importantes:

  • Furry

    Numa tradução literal do inglês, "furry" significaria "peludinho". Trata-se de uma referência a pessoas com uma área de gostos em comum, a de criaturas antropomórficas (isto é, criaturas que são meio humanas e meio animais). Não se pode especificar melhor do que isso, pois o termo furry é muito abrangente: pode tratar de pessoas com o hábito de usar as chamadas "fursuits", trajes nos quais podem se identificar com uma criatura antropomórfica; pode ser a própria criatura antropomórfica; pode ser um artista com tendência para anatomia furresca; pode tratar também de pessoas que acreditam possuir relação de espírito com estes seres, alguém com vínculo forte com a natureza; pode tratar da própria cultura dos furries. Essa cultura é bastante vasta e engloba todos estas diferentes relações e modos de ser. Para muitos, essa vivência está no mesmo nível da etnia e da sexualidade: é característica da pessoa desde o nascimento. Por consequência, é uma cultura universal e absolutamente natural, com aceitação imediata de quem se descobre assim.

  • FurFandom

    Ou como no nome completo, Furry Fan Domain, literalmente "Região dos fãs furries", se refere a um lugar comum (geralmente um lugar abstrato ou virtual) em que furries estariam unidos pela semelhança e gosto. Tradicionalmente, a internet teria tido grande influência sobre o modo como os furries se comunicam e se localizam. Daí tirou-se um termo já usado por outras culturas, o termo fandom, que, sendo geral, originalmente pode-se tratar de qualquer domínio ou área de encontro entre fãs de alguma coisa. Furry Fandom também pode se referir ao grupo de pessoas furries no geral (o que, afinal de contas, dá na mesma, pois nos leva a colocá-los sobre o mesmo lugar comum, outra vez). Dentro de seu ambiente próprio de conversa, o comum, ao mencionar o FurFandom, costuma ser com o termo "fandom", simplesmente, pois os integrantes já pertencem àquele lugar comum e conversam através dele.

    ~~~Posteriormente irei complementar essa postagem introdutória.~~~